O que é a verdade I

"Jo 8:32 E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."
"Jo 18:38 Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum."

Veja o que ensina o dr. Charles Finney (1847) sobre a verdade

VÁRIAS CLASSES DE VERDADES
(Da edição de 1847)

Antes de prosseguir nessas investigações, devo chamar sua atenção para um assunto que precisa estar exatamente no início deste curso de estudos e que aí deve ser encontrado, caso essas aulas sejam publicadas na devida ordem: refiro-me às várias classes de verdades consideradas neste curso de instrução, com a maneira pela qual chegamos a conhecê-las ou a crer nelas. Todas as investigações humanas avançam sobre o pressupos­to da existência e validade de nossas faculdades e da credibilidade do testemunho inequívoco delas. Negar isso é cancelar de uma vez a possibilidade do conhecimento ou de uma crença ra­cional e entregar a mente ao ceticismo universal.
As classes de verdades a que seremos chamados a estar atentos em nossas investigações podem ser divididas, com exatidão suficiente para nos­so propósito, em verdades que não precisam ser provadas e verdades que precisam ser provadas. A mente humana é constituída de tal forma que, por meio de leis próprias, percebe, reconhece ou co­nhece algumas verdades sem testemunho externo. Ela toma conhecimento direto dessas verdades, e só pode ser assim.
A primeira classe, ou seja, verdades que não precisam ser provadas, pode ser subdividida em verdades da razão pura e verdades da sensação.  Essas duas classes são em certo sentido evidentes por si, mas não no mesmo sentido. Verdades da razão pura são intuições dessa faculdade, e verdades da sensação são intuições dos sentidos. Falarei, portanto, de verda­des manifestas da razão e de verdades manifestas da sensação. Devo pressu­por que vocês possuem algum conhecimento de psicologia e dar por certo que compreendem a diferença entre as intuições da razão e as intuições dos sentidos.
Por verdades manifestas da razão, portanto, quero dizer aquela classe de verdades intuídas e confirmadas diretamente por essa faculdade, de acordo com suas evidências e em virtude de suas leis, sempre que forem declaradas de tal forma que os termos da proposição pelos quais são expressas são en­tendidos. Não se chega a elas por argumentações ou por nenhum tipo de evidência, exceto o que está contido nelas mesmas. Assim que se compreen­dem os termos da proposição em que são expressas, a razão confirma sua veracidade de maneira instantânea e segura. É desnecessário e absurdo pro­curar qualquer outra prova dessa classe de verdades, exceto elaborar uma declaração compreensível delas. Também é completamente prejudicial, tal­vez absurdo, tentar provar — na acepção normal do termo provar — uma verdade manifesta da razão. Todas as tentativas de provar tais verdades por argumentação implicam um absurdo, sendo mais uma obra de supererrogação, como seria tentar provar que vocês vêem um objeto com os olhos bem abertos e fixados nele.
Os axiomas matemáticos pertencem a essa classe.
As verdades manifestas da razão são verdades de conhecimento certo. Uma vez declaradas dessa forma ou apresentadas de algum modo à mente para que sejam compreendidas, a mente não só crê nelas, como sabe que são abso­lutamente verdadeiras. Ou seja, ela percebe que são verdades absolutas e sabe que é impossível não serem verdadeiras. Embora não se chegue a essa classe de verdades por argumentação, faz-se muito uso delas na argumentação, já que a principal premissa de um silogismo é com freqüência uma verdade manifesta da razão.
Essa classe de verdades é afirmada por uma faculdade de todo distinta do entendimento ou daquele poder que adquire por intermédio dos sentidos todo o seu conhecimento. Ela toma consciência de uma classe de verdades que, pela própria natureza dela, permanece eternamente à parte dos sentidos e, por conseguinte, do entendimento. Os sentidos jamais nos podem dar as ver­dades abstratas da matemática. Jamais nos podem dar o absoluto ou o infini­to. Não nos podem dar uma lei moral ou alguma lei. Os sentidos podem dar fatos, mas não leis e princípios.
Que Deus e o espaço e o tempo são infinitos, que todos os atributos de Deus devem ser infinitos, são verdades manifestas da razão; ou seja, são verdades de uma afirmação e pressuposição a priori. Jamais se chega a elas pela argumentação ou por indução, e não se pode chegar. A mente só as conhece em virtude de leis próprias, pressupondo-as e intuindo-as diretamente, sem­pre que apresentadas. Os olhos da razão vêem-nas de maneira distinta, assim como os olhos da mente vêem objetos de visão apresentados ao órgão físico da visão. A mente é construída de tal maneira que vê algumas coisas com os olhos naturais da carne e algumas verdades diretamente com olhos próprios, sem o uso de algum olho físico. Todas as verdades manifestas da razão per­tencem a essa classe; ou seja, são verdades que a mente vê e conhece, e não simplesmente crê. Na argumentação, a declaração crua de uma verdade ma­nifesta é suficiente, desde que, conforme se disse, seja expressa com tal clare­za que os termos da proposição sejam compreendidos. Deve-se ter em mente, na argumentação, que todos os homens possuem mente e que as leis do conhe­cimento são físicas e, claro, estabelecidas e comuns a todos eles. As condições do conhecimento são iguais em todos os homens. Devemos, portanto, sempre pressupor que não se pode deixar de compreender as verdades manifestas assim que sejam expostas com tal clareza que os termos em que são expressas sejam compreendidos. Nossas pesquisas futuras apresentarão muitas ilustra­ções da verdade desse tipo.
Deve-se também notar que a universalidade é um atributo das verdades manifestas da razão. Ou seja, são universais nos seguintes sentidos:
1. Todos os homens afirmam serem verdades quando as compreendem.
2. Todos afirmam serem verdades do mesmo modo; ou seja, por intuição direta. Ou as percebem por luz própria e não por meio de argumentação, demonstração ou sentidos.
3. As verdades manifestas da razão são verdadeiras sem exceção e, nesse sentido, também universais.
4. A necessidade também é um atributo das verdades manifestas. Ou seja, são necessariamente verdadeiras e não é possível considerá-las de outra ma­neira. E quando são cumpridas as condições alistadas, só podem ser conheci­das dessa maneira por todos os agentes morais.
As verdades manifestas da razão podem, de novo, ser divididas em ver­dades meramente manifestas e verdades primeiras da razão. Essa classe de ver­dades possui todas as características das verdades manifestas, ou seja: são verdades universais; são verdades necessárias; são verdades de intuição dire­ta; são verdades de conhecimento certo.
Nisto está sua peculiaridade: são verdades necessária e universalmente conhecidas pelos agentes morais. Ou seja, não se distinguem das meras ver­dades manifestas da razão, exceto pelo fato de serem universalmente conhecidas a partir da lei da agência moral; assim todos os agentes morais possuem e devem possuir conhecimento certo delas.
São verdades de pressuposição necessária e universal. Estejam ou não no pensamento direto em algum tempo ou a todo tempo, sejam ou não objeto de atenção específica da mente, de qualquer forma são pressupostas por uma lei da necessidade universal. Suponham, por exemplo, que a lei da causa e efeito não estivesse o tempo todo ou em algum tempo sujeita a uma ponderação ou atenção distinta. Suponham que a proposição em palavras jamais viesse à mente: "todo efeito deve ter uma causa". Ainda assim, a verdade está ali em forma de um conhecimento absoluto, uma pressuposição necessária, uma afir­mação a priori, e a mente defende isso com tamanha força, que é totalmente incapaz de dispensar, esquecer ou negá-la na prática. Toda mente a tem por conhecimento certo muito antes de conseguir compreender a linguagem em que é expressa, e nenhuma declaração ou evidência pode dar à mente alguma convicção mais firme de sua veracidade do que a dada primeiro pela necessi­dade. Isso é verdade em relação a todas as verdades dessa classe. Elas são sempre e necessariamente aceitas por todos os agentes morais, quer haja um pensamento distinto, quer não. E a maior parte dessa classe de verdades é aceita sem ser objeto freqüente ou, pelo menos, objeto geral de ponderação ou atenção direta. A mente as pressupõe, sem que haja consciência direta da pres­suposição.
Por exemplo, agimos a cada momento, julgamos, raciocinamos e cremos na pressuposição de que cada efeito precisa ter uma causa mesmo assim não temos consciência de pensar nessa verdade nem de pressupô-la, até que algo nos chame atenção para ela. As verdades primeiras da razão, portanto, que sejam lembradas com nitidez, são sempre e necessariamente pressupostas, embora possam receber pouca atenção. Elas são conhecidas universalmente, antes que se compreendam as palavras pelas quais possam ser expressas e, ainda que possam ser jamais expressas numa proposição formal, a mente tem por certo um conhecimento delas assim como tem por certa a existência de si mesma.
Mas cabe indagar se existem algumas condições para que sejam pressu­postas e, caso existam, quais são. A inteligência faz essas pressuposições sob certas condições ou independentemente de todas ou de algumas condições? A verdadeira resposta a essa indagação é que a mente só aceita essa pressupo­sição após o cumprimento de certas condições. Cumpridas essas condições, a inteligência faz essa pressuposição de maneira instantânea e necessária em virtude de uma lei da própria natureza dela e a faz, quer a pressuposição seja um objeto distinto da consciência, quer não.
A única condição dessa pressuposição que precisa ser mencionada é a per­cepção mental daquilo com que a verdade primeira mantém a relação de um antecedente lógico ou uma condição lógica. Por exemplo, para desenvolver a pressuposição de que cada efeito deve ter uma causa e para necessitar dessa pressuposição, a mente só precisa perceber ou possuir a concepção de um efeito, à qual a pressuposição em questão segue-se de imediato por uma lei da inteligência. Essa pressuposição não é uma dedução lógica a partir de alguma premissa; mas a partir da percepção de um efeito ou a partir do fato de a mente possuir a idéia ou noção de um efeito, a inteligência irresistivelmente, em virtude de leis próprias, pressupõe a verdade primeira da causalidade como condição lógica e necessária do efeito; ou seja, pressupõe que um even­to e todos os eventos precisam ter uma causa.
A condição pela qual as verdades primeiras da razão são pressupostas ou desenvolvidas é chamada a condição cronológica de seu desenvolvimen­to, por ser anterior em tempo e na ordem da natureza para seu desenvolvi­mento. A mente percebe um efeito. Com isso, pressupõe a verdade primei­ra da causalidade. Ela percebe o corpo e, com isso, pressupõe a verdade primeira: o espaço existe e deve existir. Essas verdades primeiras, vamos repetir, não são pressupostas na forma de uma proposição, ponderada ou expressa em palavras, e nem sempre, ou talvez nunca de início, a mente está consciente da pressuposição, ainda que desse momento em diante a verdade coloque-se entre as posses inalienáveis da mente e para sempre; a partir de então, seja necessariamente reconhecida em todos os julgamen­tos práticos da mente.
Assim, deve-se dizer de modo específico, as verdades primeiras da razão postam-se tão profundas na mente, que talvez seja raro aparecerem direta­mente no campo do pensamento consciente; ainda assim, a mente as conhece de maneira tão absoluta, que já não as pode esquecer, desprezar ou negar na prática, assim como não pode esquecer, desprezar ou negar na prática a exis­tência dela mesma.
Afirmei que todas as argumentações procedem da pressuposição dessas verdades. Preciso fazê-lo necessariamente. E absurdo tentar provar verdades primeiras para um agente moral: pois caso seja um agente moral, já as conhece absolutamente e, se não conhecer, não há meio possível de colocá-lo em posse delas, a não ser apresentar à sua percepção a condição cronológica do desen­volvimento delas, e em circunstância alguma seria necessário mais que isso, pois ocorrendo essa percepção, segue-se a pressuposição ou desenvolvimen­to, por uma lei de necessidade absoluta e universal. E até que essas verdades sejam desenvolvidas de fato, nenhum ente pode ser um agente moral.
Não há argumentação com alguém que questione as verdades primeiras da razão e exija prova delas. Toda argumentação deve, pela natureza da men­te e pelas leis do raciocínio, ter as verdades primeiras da razão por certas e notórias e como condição a priori de todas as deduções e demonstrações lógi­cas. Algumas deles devem ser pressupostas verdadeiras, direta ou indireta­mente, em todos os silogismos e em todas as demonstrações.
Em todas as nossas investigações futuras na linha da verdade que realiza­remos, teremos ocasiões abundantes para aplicar e ilustrar o que se disse ago­ra acerca das verdades primeiras da razão. Se, em algum estágio de nosso progresso, iluminarmos uma verdade dessa classe, que se tenha em mente que a natureza da verdade é a preclusão, ou, como diriam os advogados, a interdição de toda controvérsia.
Negar a realidade dessa classe de verdades é negar a validade de nosso conhecimento mais perfeito e, é claro, negar a validade de nossas faculdades. A única pergunta a se levantar a respeito dessa classe de verdades é: a verda­de em questão pertence a essa classe? Há muitas verdades dessa classe que não obtiveram reconhecimento geral de que pertencem a ela. Disso teremos exemplos abundantes que ocorrerão em nosso caminho quando prosseguir­mos em nossa investigação. Há muitas verdades que os homens, todos os homens sadios, com certeza conhecem, sobre as quais raramente pensam, mas que, em teoria, negam com persistência.
Antes de dispensar essa parte de nosso assunto, mencionarei algumas das muitas verdades que pertencem inegavelmente a essa classe, deixando outras para serem mencionadas conforme prosseguirmos, encontrando-as em inves­tigações futuras.
Já observei três tipos dessa classe, ou seja: a verdade da causalidade — a existência do espaço e do tempo. Que o todo de qualquer coisa é igual a todas às suas partes é também uma verdade dessa classe, conhecida universal e necessariamente e pressuposta por todos os agentes morais. Também, que algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo.
Uma terceira classe de verdades manifestas são verdades particulares da razão. A razão as intui e afirma diretamente. São verdades de conhecimento certo, mas não possuem os atributos de universalidade ou infinitude. A essa classe pertencem as verdades de nossa existência, de identidade pessoal e individualidade. Não são verdades dos sentidos nem são verdades primei­ras ou manifestas, de acordo com o uso comum desses termos. Mas são ver­dades de intuição racional e são consideradas verdadeiras à luz da própria evidência delas e, como tais, nos são dadas como verdades indubitáveis pela consciência.
Todas as verdades que ficam no âmbito de nossa experiência, ou seja, to­dos os nossos exercícios e estados mentais são verdades manifestas para nós. Não precisamos prová-las. Quer sejam fenômenos, quer sejam estados do In­telecto, da Vontade ou da Sensibilidade. Quando se fala delas no coletivo, não podem ser chamadas verdades manifestas, exceto no sentido de que para nós manifestam-se no campo da consciência, como fatos ou realidades, e que as conhecemos ou as afirmamos com certeza indubitável.
As verdades dos sentidos, como dissemos, são em certo sentido verdades manifestas. Ou seja, são fatos dos quais a mente possui conhecimento direto por intermédio dos sentidos. Ao falar que as verdades dos sentidos são de certa forma manifestas, falo, é claro, de verdades ou fatos de nossos sentidos ou da­queles revelados a nós diretamente pelos nossos sentidos. Sei que não é comum falar dessa classe de verdades como manifesta; e não o são no sentido que são as intuições racionais simples. Ainda assim, são fatos ou verdades que não pre­cisam de provas para nos serem estabelecidas. O fato de que seguro esta caneta na mão é uma realidade manifesta para mim, tanto quanto três e dois são cinco. Percebo uma e outra com a mesma realidade e nenhuma delas precisa de prova alguma. Não é meu intuito exaurir este assunto, nem entrar em distinções sutis e altamente metafísicas, mas só dar indicações e deixar sugestões que o façam estar atento ao assunto, e suprir nossas necessidades durante nosso curso de estudos, deixando a seu critério entrar numa análise mais crítica do assunto.
Das verdades que exigem prova, a primeira classe para a qual devo cha­mar atenção é a das verdades de demonstração. Essa classe de verdades admite grau tão elevado de prova que, completada a demonstração, a inteligência confirma que é impossível não serem verdades. Essa classe, quando demons­trada com eficiência, são consideradas verdadeiras com não menos certeza que as verdades manifestas: mas a mente não chega à percepção delas por algum caminho. Chega-se àquela classe de maneira universal e direta, a priori, pela intuição direta, sem argumentação. Chega-se a esta classe universalmente pela argumentação. Aquelas são obtidas sem nenhum processo lógico, enquanto esta última classe é sempre e necessariamente obtida por conseqüência de um processo lógico. Muitas vezes obtemos essas verdades por um processo estri­tamente lógico, sem consciência alguma da maneira pela qual as obtivemos. Essas classes, portanto, diferentes das outras, não devem ser comunicadas e estabelecidas sem argumentação, mas pela argumentação. Nessas classes de verdades, a mente, por leis próprias, não descansará a menos que sejam de­monstradas. Elas admitem demonstração e, pela natureza delas e pela natu­reza da inteligência, precisam ser demonstradas antes que possam ser consi­deradas e aceitas como conhecimento certo. Muitas delas podem ser aceitas, no sentido de receber crédito, sem uma demonstração absoluta. Mas não se pode dizer de maneira exata que a mente as conhece antes que tenha percor­rido a demonstração, e depois disso ela não pode deixar de conhecê-las.
Para colocar a mente em posse de uma verdade primeira da razão, vocês só precisam apresentar a condição cronológica de seu desenvolvimento. Para revelar uma verdade manifesta da razão, vocês só precisam defini-la com ter­mos suficientemente claros. Mas para provar uma verdade pertencente à classe ora em consideração, vocês precisam cumprir as condições lógicas do intelec­to para afirmá-las. Ou seja, precisam demonstrá-las.
A próxima classe a considerar são as verdades da revelação. Quero dizer as verdades reveladas por inspiração divina. Todas as verdades são de algum modo reveladas à mente, mas nem todas, pela inspiração do Espírito Santo. A mente conhece algumas das verdades dessa classe; em outras, ela só crê. Ou seja, algu­mas dessas verdades são objetos ou verdades do conhecimento ou da intuição quando levadas pelo Espírito Santo ao campo da visão ou intuição. Outras são só verdades de fé ou verdades em que se deve acreditar. A divindade do Senhor Jesus Cristo é uma verdade da revelação da primeira classe, ou seja, uma ver­dade da intuição ou de conhecimento certo quando revelada para a mente pelo Espírito Santo. Essa verdade, quando assim revelada, é intuída diretamente pela razão pura. Ela sabe que Jesus é verdadeiro Deus e vida eterna pela mesma lei pela qual conhece as verdades primeiras da razão. O único motivo que a alma pode dar para crer ser ela verdade é saber que é verdade. Ela vê ou perce­be que é verdadeira. Mas essa percepção ou intuição é condicionada pela reve­lação do Espírito Santo. Ele "há de receber do que é meu e vo-lo há de anunci­ar", disse Jesus. Mais acerca desse tópico será acrescentado no seu devido lu­gar. Os fatos e verdades ligados com a humanidade do Senhor Jesus são da segunda classe de verdades da revelação, ou seja, são só verdades de crença ou de fé, em contraste com verdades da razão pura ou da intuição.
Essa classe de verdades, pela própria natureza, não são suscetíveis de in­tuição. Podem ser reveladas de tal maneira que a mente não tenha dúvidas acerca delas, sendo-lhe difícil distingui-las das verdades de conhecimento certo; entretanto, só se crê nelas e não são conhecidas com a mesma certeza que as verdades da intuição.
Por si, a Bíblia não é estrita e propriamente uma revelação para o homem. É, mais propriamente, uma história de revelações antes feitas a certos homens. A fim de ser uma revelação para nós, suas verdades devem ser levadas pelo Espírito Santo para o campo da visão espiritual. Essa é a condição para co­nhecermos as verdades da revelação ou crer nelas da maneira apropriada. "Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não trouxer". "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe pare­cem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritual­mente". "Mas o que é espiritual [possui o Espírito] discerne bem tudo".
Mas não devo me prolongar aqui neste assunto. Só acrescentaria agora que os que questionam a divindade de Cristo manifestam evidência conclusi­va de que Cristo jamais lhes foi revelado pelo Espírito Santo. Os que defen­dem sua divindade como uma teoria ou opinião não são de algum modo be­neficiados por ela, pois Cristo não é conhecido por alguém de maneira salvadora, exceto pela revelação do Espírito Santo.
Às classes de verdades já consideradas podem-se acrescentar algumas outras, tais como Verdades Prováveis, Verdades Possíveis, etc. Mas levei longe demais esta discussão para atender aos propósitos deste curso de instrução e, creio, o sufici­ente para impressionar a mente de vocês com uma noção da importância de aten­tar para a classificação das verdades e verificar a classe específica a que certa verdade pertence como a condição para obtê-la com sucesso para si mesmo ou dar posse dela a outras mentes. Como mestres de religião, nunca lhes será de­mais ter incutida a importância de atentar para essa classificação. Estou plena­mente convencido de que boa parte da ineficácia dos mestres de religião deve-se ao fato de não estudarem as leis do conhecimento e da crença e não obedecerem a elas para levar convicção à mente de seus ouvintes. Eles não parecem ter consi­derado as diferentes classes de verdades e como a mente passa a conhecê-las ou acreditar nelas. Por conseguinte, ou gastam o tempo em esforços menos que inú­teis para provar verdades primeiras ou manifestas, ou esperam que verdades suscetíveis de demonstração sejam recebidas e aceitas sem tal demonstração. Com freqüência fazem pouca ou nenhuma distinção entre as diferentes classes de ver­dades e raramente ou nunca chamam a atenção de seus ouvintes a essa distinção. Conseqüentemente, desconcertam e muitas vezes confundem seus ouvintes com violações flagrantes de todas as leis da lógica, conhecimento e crença. Com fre­qüência tenho sido afligido e até angustiado com a deficiência de mestres de religião nesse aspecto. Estudem para se apresentarem aprovados, como obreiros que não têm de que se envergonhar e estarem aptos para se recomendar à consci­ência de todo homem, na presença de Deus.

Fonte: FINNEY, Charles. Telogia Sistemática, CPAD, Rio de Janeiro -RJ, 3ª ed.. 2004

 Título do original em inglês: Finney's Systematic Theology 
Bethany House Publishers Minneapolis, Minnesota, USA 
Primeira edição em inglês: 1847
Tradução: Lucy lamakami (Aulas 1 a 17), Luís Aron de Macedo (Aulas 18 a 29 e 36) e Degmar Ribas Júnior (Aulas 30 a 35)

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